Técnica:
JÚRI SIMULADO
A
professora e a Maleta
(Lygia Bojunga)
(Lygia Bojunga)
A Professora
era gorducha; a maleta também. A Professora era jovem; a maleta era velha, meio
estragada e de um lado tinha um desenho de um garoto e uma garota de mãos dadas. Vestido igual, cabelo igual, sorriso igual!
A Professora gostava de ver a classe contente. Mal entrava na classe e já ia contando uma coisa engraçada. Depois abria a maleta e escolhia o pacote do dia. Tinha pacotes pequenininhos, médios, grandes tinha pacote embrulhado em papel de seda, metido em saquinho de plástico, tinha pacote de tudo quanto é cor. Não era à toa que a maleta ficava gorda daquele jeito!
Só pela
cor do pacote as crianças já sabiam o que ia acontecer: pacote azul era dia de inventar
brincadeiras de juntar menina e menino; não ficava mais valendo aquela história
mofada de menino só brincar disso, menina só brinca daquilo, meninos do lado de
cá, meninas do lado lá. Pacote cor-de-rosa
era dia de aprender a cozinhar. A Professora
remexia no pacote, entrava e saia da classe e,de repente pronto! Mostrava um fogão com botijãozinho de gás e tudo. Era um
tal de experimentar
receita que só
vendo. Um dia a diretora da escola
entrou na sala, justo na hora que o Alexandre estava ensinando outro garoto a fazer
bolinhos de trigo. Uma fumaceira medonha
na sala de aula! Todas as crianças em volta
do fogão palpitando: falta sal, bota pimenta, bota um pouquinho de salsa. A diretora sabia que estava na hora da aula de
matemática. Que matemática era aquela que a Professora estava inventando? Não gostou da invenção, mas saiu sem dizer nada.
Pacote
vermelho era de viajar: saia retrato do mundo inteiro lá de dentro do pacote. Espalhavam aquilo tudo pela classe; enfileiravam
as carteiras para fingir de avião e de trem.
Quando chegavam aos retratos, um ia contando para o outro tudo o que sabia
sobre aquele lugar.
Tinha
um pacote cor de burro quando foge que a Professora nunca chegou a abrir! Todo dia ela botava o pacote em cima da mesa. Mas na hora de abrir, ficava pensando se abria
ou não e acabava guardando o pacote de novo.
Pacote
verde era dia de aprender a pregar botão, botar fecho, fazer bainha na calça e na
saia. Se o verde era bem forte, era dia de
aprender a cortar a unha e cabelo. Verde
bem clarinho era dia de consertar e limpar os sapatos. E tinha ainda um verde, que não era forte nem
claro: era um amarelo que as crianças adoravam.
Era dia da Professora abrir
o pacote de
história. Cada história ótima!
Tinha
um pacote branco, que só servia para a professora esconder e para a turma brincar
de achar. Quem achava ia para o quadro negro
dar aula. No princípio ninguém procurava
direito. Coisa mais chata dar aula! E aula de quê?
_
Conta a tua vida. Mostra o que você sabe
fazer.
Com o tempo, a turma deu para procurar direito o pacote. Era muito engraçada a tal aula!
No dia
em que o Alexandre achou o pacote, resolveu contar para a turma como é que ele vendia
amendoim na praia. No melhor da aula, um
grupo de pais de alunos que visitando a escola entrou na sala. Quando a aula acabou um deles perguntou a
Professora: − A senhora está querendo ensinar meu filho a ganhar a vida vendendo
amendoim? A Professora explicou que Alexandre
só estava contando para os colegas como era o trabalho dele, para todos ficarem
sabendo como é que ele vivia.
No outro dia saiu fofoca: contaram para o Alexandre que tinha um pessoal que não estava gostando da maleta da Professora.
_ Que
pessoal?
Um disse
que era a diretora, outro disse que era uma outra professora,
outro disse
que outro falou,
mas ninguém ficou
sabendo direito!
Uns dias
depois choveu muito! Chuva grossa. Encheu a rua, o tráfego da cidade parou, casa
desmoronou. Coisa a beça aconteceu. E quase ninguém foi à Escola. Mas Alexandre foi.
Entrou
na classe e viu tudo vazio. Chovia demais
para voltar para casa. Resolveu sentar e
esperar. Lá pelas tantas a Professora chegou. Mas chegou sem a maleta. E com jeito diferente, uma cara meio inchada,
não contou coisa engraçada, não riu nem nada.
Sentou e ficou olhando para o chão.
Alexandre achou que ela nem tinha visto ele.
_ Oi!
Ela também
disse oi! Mas continuou quieta. Depois de algum tempo, Alexandre cansou de tanto
ninguém dizer nada e falou:
_ A chuva
molhou sua cara?
A professora
nem se mexeu. Ele perguntou:
_ Foi
a chuva?
Ela
fez que sim com a cabeça. Alexandre resolveu
esperar mais um pouco. Mas pelo jeito a
Professora tinha esquecido de dar
aula. Será que era porque ela não
tinha trazido a maleta? Arriscou:
_ Cadê
a maleta?
A Professora
olhou para ele sem saber muito bem o que dizer.
Ele insistiu:
_ Heim? Cadê?
_ Perdi
Ele se
apavorou:
_ Com
tudo que tinha dentro?
_ É
_ Os
pacotes todos?
_ É
_ O azul,
o verde, o...
_ É...
É... É!
Puxa
que susto! Ela nunca tinha falado alto assim. Não perguntou mais nada. O coração ficou batendo, batendo, mas ela continuava
sempre quieta até que ele não se aguentou
e perguntou de
novo:
_ E agora? Como é que vai dar aula sem maleta?
_ Não
sei.
_ Dá
jeito de você comprar os pacotes de novo?
_ Não.
_ Por
quê?
Ela não
disse nada.
_ Responde...
Por quê?
_ Eles
vêm junto com a maleta? Não vendem separados?
_ Mas
então compra outra maleta. Pronto.
Ela ficou
quieta de novo. E o tempo ia passando e ela
continuava sempre quieta! A cara dela não
secava nunca e não chovia lá dentro.
Cada vez molhava mais! Então ele acabou
pedindo:
_ Compra,
sim?
_ Não
dá Alexandre, eles não estão mais fabricando essas maletas hoje em dia.
E
aí... ele não perguntou
mais nada. Ela também não falou mais. Até que a campainha tocou e a aula acabou.
Detalhamento
da atividade coletiva: JURI SIMULADO
Esta
atividade é uma dramatização de um júri onde a professora será julgada.
Todos os
participantes formarão um único grupo, deverão se organizar e apresentar um
julgamento conforme os moldes reais.
Sugestão de personagens envolvidos: ré ( a
professora), a diretora,advogado de acusação,advogado de defesa,jurados,pai que chega para dar queixa, testemunhas atc. ...
Obs.: esta atividade poderá ser adaptada a conteúdos de História, avaliar atitudes de personagens em textos lidos e interpretados, Textos de Ensino Religioso, etc...
Um forte abraço e bom trabalho! TGSCouto
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